terça-feira, 14 de setembro de 2010

O que não me satisfaz.



Quando eu tinha seis anos tinha também o sonho de ter cem reais. É, cem reais. Eu imaginava que com aquilo eu poderia comprar o mundo, e comprar também o sorvete infinito de todos os sabores. Saia na rua e comprava pães em padarias, roupas em lojas especializadas, televisão em loja de eletrodomésticos e frutas em frutarias. Andava se mãos dadas com meus pais, embora quisesse correr por aí, era bom estar ao lado deles. Assistia Doug funnie, Ursinhos carinhosos, castelo rá-tim-bum e o fantástico mundo de bob. Um computador era luxo (que eu poderia comprar fácil com meus cem reais), mas eu tinha um super nintendo e jogava Mário World, compensava não ter o computador. No fim da tarde eu assistia chiquititas e eu adorava ver como eles eram sempre ajudados uns pelos outros. Quando eu tinha seis anos, só doía enquanto não se tinha ou enquanto o machucado sangrava.
Hoje com dezesseis vejo que com cem reais, eu não me mantenho nem por duas semanas. Encontro na rua lojas monstruosas que unem tudo-o-que-você-precisa isso numa coisa só, para não perder o freguês, incluindo os hortifrutigranjeiros. Os jovens que nem sequer falam com seus pais, e ao invés de estenderem os braços para uma manifestação amorosa, estendem as mãos pra saciarem seus consumos (comprar um óculos colorido e ficar na moda pro seu amigo te invejar). As crianças de seis não assitem mais desenhos, mas uma comparação gráfica humana, e os rabiscos dos desenhos... O que é isso mesmo? As mães de quinze anos criam orkut's para seus filhos de três anos, e os filhos criam pros cachorros, pros gatos, pra cadeira da cozinha, pro biscoito recheado... No final das tardes há 10 anos é transmitido um programa que aborda apenas temas como sexo, roupas coloridas, status e uma mocinha que fica grávida e se ferra. (10 anos a mesma coisa, quanta criatividade). Hoje com dezesseis sinto que dói eternamente, embora atenue com o tempo a cicatriz que fica é contínua.

Nota: Cansada da futilidade e dessa facilidade que tudo me oferece.

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